Mas se se desviar a atenção para o que tem vindo a ser dito por algumas das figuras da sua Administração, ou a estratégia de Trump está a ser minada por dentro ou é o próprio que aposta na velha táctica do "polícia bom, polícia mau" para lidar com os russos.

Este "guião" de filme de Hollywood começou com Keith Kelloogg, o seu enviado para lidar com a guerra no leste europeu, que enfureceu Moscovo anunciando propondo o congelamento do conflito nas actuais posições enquanto se enche uma "zona de ninguém" de forças externas...

Agora, escassos dias depois de o próprio Donald Trump ter dito que percebia as razões pelas quais o Kremlin não pode aceitar que a Ucrânia entre na NATO, fazendo brilhar os olhos do seu "amigo" Vladimir Putin, eis que o seu próximo secretário do Tesouro vem baralhar as contas todas.

Isto, porque Scott Bessent, o último dos nomes para uma pasta relevante na próxima Administração Trump, foi ao Congresso defender um "forte aumento" das sanções contra a Rússia para levar Putin a aceitar negociar termos menos rígidos para acabar com a guerra.

Coincidentemente ou não, os nomes que vão ser a cara da governação de Donald Trump a partir de 20 de Janeiro parecem estar a surgir de forma alternada como o polícia bom e o polícia mau do chefe da esquadra para lidar com o vilão de Moscovo.

E começou logo com a escolha do seu vice-Presidente, JD Vance, que se posicionou como alguém compreensivo para as posições de Putin, defendendo claramente que os EUA devem travar o apoio a Kiev.

Depois, apareceu o nome de Mike Waltz como próximo Conselheiro para a Segurança Nacional de Trump, que vem de um passado de posições mais agressivas para travar os ímpetos russos, embora tenha sido ele a anunciar que o Presidente-eleito quer dialogar com Putin para encontrar soluções.

Entretanto, Elon Musk, o "joker" da futura Casa Branca, mostra ter pouca paciência para o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e mostra uma inclinação para que Trump opte para desenhar o mapa do fim da guerra directamente com Vladimir Putin.

E, nesta sucessão de polícia bom e polícia mau, aparece agora, quando os media internacionais já dão como certo o encontro presencial para breve entre Trump e Putin, faltando apenas escolher o local, que pode ficar definido numa conversa telefónica, segundo Waltz, mesmo antes da tomada de posse, o próximo secretário do Tesouro, Scott Bessent, volta a criar ruído na linha Moscovo-Washington.

Além de defender o aumento das sanções a Moscovo, Bessent criticou com dureza o ainda Presidente Joe Biden, a quem, na audição no Congresso antes de ser validada a sua nomeação para o cargo, acusou de não ter sido tão duro quanto necessário, especialmente no capitulo da indústria petrolífera russa.

No que diz respeito à estratégia norte-americana para lidar com a urgência de acabar com a guerra entre russos e ucranianos, já a partir de segunda-feira, 20, as zonas cinzentas começarão a ganhar contornos mais definidos, porque será a palavra do Presidente que, no fim, valerá...

Entretanto, provavelmente olhando para alguma divisão de pontos de vista sobre a forma como é que o ocidente/NATO deve lidar com Moscovo, os aliados europeus de Kiev não se cansam, nestes últimos dias, de dar o seu contributo para criar as condições que impeçam Trump de abrir mão do imprescindível apoio norte-americano aos ucranianos.

Segundo o empenhadamente pró-Ucrânia jornal britânico The Telegraph, o Reino Unido e a França estão a planear secretamente o envio conjunto de forças miliares para a Ucrânia, envolvendo conversações directas sobre este assunto ao mais alto nível.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, estão, segundo The Telegraph, a discutir a criação de uma força conjunta de manutenção de paz que poderá ir ocupar a zona onde actualmente se desenrola o grosso dos combates entre russos e ucranianos.

Se tal acontecer, no que pode, provavelmente, ser a intenção, estas forças seriam, como Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, já o afirmou publicamente, constituir alvos legítimos das forças russas.

Isto, porque não haveria diferença entre a presença de britânicos e franceses e a presença da NATO tout court na geografia ucraniana, uma das razões profundas desta guerra vista por Moscovo, que visa, entre outros pontos relevantes, impedir a entrada da Ucrânia naquela organização militar ocidental devido ao risco "existencial" para a Federação Russa.

Porém, se tal vier a suceder, e se a notícia do jornal britânico, que tem sido veículo de informação falsa, como, alias, sucede de um e do outro lado da luta mediática que corre paralelamente ao conflito nas trincheiras, se confirmar, a NATO, que é, de facto, liderada por Washington, teria de intervir ao lado dos dois principais membros do bloco europeu da organização, afastando, irremediavelmente, Trump de Putin.

Porém, Trump não tem como dizer que esta possibilidade lhe é desconhecida, visto que o plano do seu enviado para o leste europeu, Keith Kellogg, que se conhece deste 2024, também prevê o posicionamento de tropas da Europa ocidental na Ucrânia após o congelamento do conflito.

Além disso, segundo o novo acordo de segurança firmado entre o Reino Unido e a Ucrânia, numa visita de Keir Starmer a Kiev esta semana, que tem como chama mediática tratar-se de uma ligação para "100 anos", Londres propõe-se criar bases militares na Ucrânia, outro desafio que, a materializar-se, levaria a uma guerra directa entre russos e a NATO.

Há, no entanto, entre os analistas equidistantes neste conflito, uma ideia que sobressai, que é a de que de Londres a Paris, o que se visa não é efectivamente abrir as portas de uma catastrófica guerra NATO/Rússia.

O objectivo é sim ajudar no que for possível o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a ter as melhores condições negociais para lidar com Vladimir Putin, visto que esse desfecho conversado para a guerra que faz em Fevereiro 3 anos, é inevitável face à decisão de Trump nesse sentido.

Além disso, existe uma nítida consciência na Europa de que sem o fluxo de armas e dinheiro americano, só com os europeus, o apoio a Kiev seria reduzido a ponto da insustentabilidade de Kiev continuar a resistir aos avanços russos que, na linha da frente, já são constantes e relevantes., e o colapso ucraniano está iminente.